A expressão entrega em domicílio pode ser lida de duas formas, e com isso quero dizer que este livro de Ana Luiza Rigueto tem duas caras. Num sentido mais imediato, é claro que a coisa lembra a história do delivery. Motoboys, cavalos de santo, caixeiros-viajantes esse tipo de gente percorre as distâncias enquanto seu próprio corpo passa ou é passado pelos lugares e pelas pessoas, vivas ou mortas. Assim se insinua uma promessa de felicidade: neles a experiência é um ovo que aguarda o nosso colo quente para ser chocado. Promessa que vive em Entrega em domicílio. Como em um pula-pula com você, que atualiza uma coca-cola com você de Frank O’Hara, refazendo a conjunção entre a perna e o olho: você me disse eu gosto / de pula-pula / vi aí uma chance, a gente gosta do vício / muito bonita eu só quero olhar você muito. Mas entrega em domicílio é também uma expressão que nasce da longa história das bandeiras brancas. [...]