(...) Os primeiros visitantes depararam-se com o cenário aterrador de, em escassos metros de terra crestada e rude, brotarem das entranhas da terra água a ferver em cachão, lançando nuvens de fumo e jactos de lama, em contraste com a luxuriante e verde vegetação.A força telúrica da Natureza em contraste com a serenidade transmitida pela paisagem doce não podia deixar de impressionar os raros visitantes que até ali se aventuravam.Os sentimentos contraditórios que o vale desperta, estão bem patentes nas descrições dos cronistas: "quase no meio daqueles campos chãos, naquela grande e profunda concavidade estão as Furnas tão nomeadas e celebradas"; "as Furnas são chamadas nesta terra pelo parecerem assim Boca do Inferno"; "paraíso terreal"; para a parte do poente é verdadeiramente um rascunho do Paraíso terreal regado com sete ribeiras de salutíferas águas,... para a parte porém do nascente é uma verdadeira representação do inferno, porque tem umas caldeiras de polme, água, enxofre tão horrendas que não outra cousa que se compare"; "é um campo chão, deleitoso, fresco e aprazível..."; "Nova Arcádia" (sinónimo de lugar ou vale profundo em que existe um isolamento natural). (...)...O povo das Furnas nem sempre bem compreendido, facto patente nas descrições incluídas na Colectânea, afirmou-se e afirma-se na força do seu carácter e dignidade que venceram os temores da Natureza...