Uma crítica à imposição da modernidade como valor absoluto. Neste livro, Sérgio Lemos retoma a literatura picaresca de séculos atrás. Recorre a uma linguagem afetadamente clássica, até arcaica. Mas, antes de mais nada, o livro é um debate filosófico também clássico - a incompatibilidade lógica entre a existência de Deus e a existência do Mal. Nele, o autor faz, também, uma alusão ao naufrágio de todos os idealismos, fenômeno típico deste fim de século. Seja qual for o modo de interpretar o livro, a escolha da linguagem é intencional e traz subentendida O livro narra as aventuras e desventuras de uma surrealista fidalga do século XVII, que sonha em restaurar a independência de Portugal - então sob o domínio espanhol, depois do sumiço do rei Sebastião I na batalha de Alcácer-Quibir. Em meio a intrigas da corte, peripécias e confusões, a duquesa vem parar no Brasil colônia, onde a história encontra o seu desfecho. O tom irônico das alusões religiosas e teológicas oculta a profunda afeição do autor por todas as tradições judaico-cristãs e, ao mesmo tempo, um inconformismo em relação ao radicalismo das instituições que se multiplicam nesse terreno. Tudo isso com a característica preocupação de Lemos com a linguagem, dono que era de um acurado senso estético.