A professora Divina Marques, da Universidade Federal de Goiás, tem seu brilho na delicadeza de sensibilidade e no esmero com que escreve. Sua percepção feminina do presente, com um olhar que busca ver a paisagem do outro lado dos muros que, na academia, separam uma disciplina da outra, ela vislumbra novas questões que requerem novas formulações. Sua reflexão sobre ética, que antes se aprofundou em Aristóteles, agora procura abrir pontes entre a Filosofia e a Biologia, entre a conduta humana e o meio-ambiente. Sempre com serenidade e capricho, além de inteligência. Por certo que, nesse percurso, ela caminha sobre trilhas arriscadas. Falar de Immanuel Kant e de Fritjof Capra, numa mesma página, implica um risco danado, convenhamos. Em sua defesa, no entanto, Divina Marques tem o argumento de que os tempos e os espaços na nossa era, definida por uma presença irreversível da técnica e das diversas tecnologias, não são mais como eram antes. Hoje, ela ensina das nossas ações resultam efeitos cumulativos e de permanência definitiva, o que agrava drasticamente a nossa responsabilidade sobre a vida, o planeta, o futuro. Por isso, baseada em Hans Jonas, ela pensa uma ética em que a palavra responsabilidade é central. Não nos termos em que Max Weber concebeu sua Ética da Responsabilidade, tendo em vista principalmente o homem político, mas em termos bem mais abrangentes, extensivo a toda a humanidade.A autora, conseqüentemente, pretende ir além da ética tradicional, assim como pretende ir além da polarização entre socialismo e capitalismo. No seu horizonte, está um cenário de harmonia possível. Há esperança no que ela escreve. Aliás, o que ela escreve é um convite à esperança, com delicadeza e esmero.