HISTÓRIAS NARRADAS E TRADUZIDAS POR CONTADORES INDÍGENAS E REUNIDAS POR BETTY MINDLIN NESTE RARO LIVRO DE AUTORIA COLETIVA Desejo, amor, satisfações e proibições são aspectos do erotismo que permeiam nossa cultura e que podem ser encontrados também nas histórias dos povos Makurap, Tupari, Wajuru, Djeoromitxi, Arikapú e Aruá compiladas em Moquecas de maridos. No entanto, de uma forma bem diferente daquilo que convencionamos chamar de erótico ou de rotular como tabu, aqui as relações entre homens e mulheres, índios e bichos, vivos e mortos nos surpreendem e nos mostram um pouco destes diferentes mundos, nos quais o amor e o conflito podem ser duros ensinamentos de regras sociais, mas também pontos de partida para desenvolver habilidades e criar objetos, como a cerâmica ou a pintura. Histórias que estão muito perto de nós e que nos são tão desconhecidas foram reunidas neste livro para revelar um rico universo, ainda tão incompreendido aos nossos olhos. ·Um dos livros mais conhecidos de Betty Mindlin; ·Esta nova edição conta ainda com textos de apoio escritos pela autora, uma tradução do prefácio publicado na edição italiana, bem como orelha de Eliane Robert Moraes e quarta capa de Luiz Ruffato; ·Esta obra já foi traduzida para várias línguas: o inglês como Barbecued husbands (Verso, 2004), o francês como Fricassée de maris, (Métailié, 2005), o italiano como Mariti alla brace, (La Linea, 2012), o alemão e o espanhol. HISTÓRIAS NARRADAS E TRADUZIDAS POR CONTADORES INDíGENAS E REUNIDAS POR BETTY MINDLIN NESTE RARO LIVRO DE AUTORIA COLETIVA Se há um expediente literário de que se valem as obras eróticas ocidentais, pelo menos desde o Renascimento, este é por excelência o rebaixamento. Seja pelo emprego do léxico obsceno, seja pelas alusões de duplo sentido, seja pela imoralidade das imagens, essa operação da linguagem supõe sempre o deslocamento para um lugar simbólico identificado com o que é “baixo”. Trata-se, em suma, de uma escrita que submete toda experiência humana aos imperativos do baixo-ventre. Ora, para surpresa do leitor, os mitos eróticos narrados em Moqueca de maridos parecem prescindir dessa convenção dominante no moderno erotismo literário. Por maior que seja a obscenidade de suas histórias, nada nelas sugere o trabalho de rebaixamento, o que concorre para a impressão de se estar diante de um mundo sem censura. Com efeito, o imaginário sexual indígena se impõe por uma liberdade de fabulação que não encontra paralelo em nossa cultura. Longe de evocar uma visão idílica das práticas amorosas nas sociedades tribais, esse repertório inusitado coloca em cena figuras improváveis como homens menstruados, mulheres sem vagina, mães que devoram os filhos, noivas que têm amantes artificiais, jovens que engravidam de vermes e até mesmo gente que copula com espíritos. Se esses mitos desconcertam é porque, neles, o sexo circula por todos os lados, transitando à vontade entre o profano e o sagrado sem observar qualquer hierarquia. Daí a perturbadora imagem da “cabeça voraz”, comum a diversas histórias, que subverte nossas convenções em torno do alto e do baixo corporal. Na mitologia indígena, o motivo capital surge para realçar a vitalidade física de um órgão insaciável, que só obedece aos impulsos da sensualidade. Assim concebida, a cabeça deixa de funcionar apenas como cosa mentale para ostentar sua condição de matéria, abrindo-se às inesgotáveis potencialidades do erotismo. Muitas são as boas surpresas que este livro notável, assinado por Betty Mindlin e narradores indígenas, reserva ao leitor. Sua leitura proporciona um novo entendimento acerca da vida erótica. Como, então, não se encantar com esse imaginário único, em que de fato “o sexo sobe à cabeça”?