A partir da dicotomia entre ética societalista e do reexame da teoria da mais-valia, o autor promove uma reavaliação crítica do liberalismo e do societalismo à luz de suas respectivas trajetórias históricas. Põe em evidência a metamorfose da ética liberal em individualista, consequência da transformação do capitalismo em uma ideologia de si mesmo, distinta do liberalismo, e a evolução tecnológica do capitalismo como influindo em um surto de neoliberalismo, que se apresenta como vitoriosa antítese - não síntese - ao societalismo, ameaçando ressuscitar os velhos fantasmas liberais dos quais se nutriu o próprio societalismo. Contrasta no societalismo sua utopia com a realidade que não permitiu o desaparecimento de mais-valia, de classes sociais e do próprio Estado, e aponta a metamorfose ocorrida também na ética societalista, fruto da cristalização de contradições fundamentais no próprio societalismo. Dó dimensões mais amplas à tendência do societalismo ao autoritarismo, à sua dificuldade sistêmica em acumular, e resgata, não obstante, as vantagens do planejamento, que é um dos traços marcantes do societalismo. Conclui pela inaptidão da lógica liberal em conduzir à liberdade, da lógica societalista em promover a igualdade, e pela necessidade de decodificar-se o processo de síntese que a história vai lentamente construindo entre os dois sistemas.