Eis uma estreia como o sol nascendo, vigoroso, num dia estupidamente de verão: Mínimo Múltiplo Comum. Mínimo: porque agrupa um conjunto de contos de curta extensão, cortantes em seus desfechos. Porque diz o máximo com suas poucas palavras e seus imensos silêncios. Porque as frases, breves mas contundentes, armam com rapidez o cenário das tramas que nos sugam de imediato a atenção. Porque, no mínimo, traz uma nova voz à cena literária brasileira. Múltiplo: porque revela mais uma habilidade de Raquel Matsushita; a de criar narrativas para o leitor adulto, somando-se a seu talento de designer premiada (lindos são seus projetos editoriais) e à sua sensibilidade como autora de obras infantis. E, sobretudo, porque os contos exibem um variado espectro humano pais, mães, tios, avós, amigos, amantes, flagrados em seus dias ordinários sob a ótica das inevitáveis (e, às vezes, brutas) mudanças. Comum: porque as histórias se alicerçam naquilo que é nuclear da condição humana os sentimentos de posse, os desencantos, as traições, os embates cotidianos (prosaicos e profundos), e, igualmente, os instantes de comunhão, de contentamento, de êxtase, de alta voltagem erótica. Mínimo Múltiplo Comum: sal para os dias frios e insossos da nossa literatura.