O paranaense Miguel Sanches Neto publica poesia há cerca de 20 anos, porém só agora seus versos aparecem reunidos em uma edição nacional. Mas Venho de um país obscuro, mesmo recolhendo sua principal produção poética desse período, não pode ser visto como uma coletânea de poemas independentes. É, ao contrário, uma obra perfeitamente cerzida que trata da busca do autor pela literatura. Ao decorrer de suas páginas, o livro trabalha a idéia de que o sofrimento é o caminho obrigatório para se chegar até a arte - que, por sua vez, é um meio essencial de sobrevivência para o poeta. O "país obscuro" do título é a infância, tema central do livro. Ao ingressar no mundo adulto, somos expatriados dessa terra e ficamos eternamente sonhando com um retorno - desejo que nunca será concretizado. Pois, como o poeta carioca Antonio Carlos Secchin escreve no posfácio, "o passaporte está vencido, o rosto que ele estampa não é nosso, e a região que queremos (re)visitar sumiu do mapa há muito tempo". A única maneira de entrar novamente em contato com o tempo perdido é através da memória, da imaginação, da palavra. É essa a viagem que Miguel Sanches Neto realiza em Venho de um país obscuro. No entanto, a infância trazida à tona nesses versos não se encontra imersa em autopiedade ou saudosismo. O passado é como uma sombra, uma ferida