A investigação cênica e literária desenvolvida pela Companhia do Latão é determinada por uma reflexão dialética aliada a um trabalho baseado na produção coletiva da dramaturgia. Desde sua origem, em 1997, o grupo trata de aspectos essenciais da sociabilidade e da herança cultural, com destaque evidente para o teatro, abordando as formas de dominação e exploração do país e do trabalho - nos tempos coloniais (Auto dos bons tratos, 2002); durante o segundo império (O nome do sujeito, 1999); nos tempos de capital financeirizado (A comédia do trabalho, 2000); e de industrialização radical da visa, inclusive da imaginação (O mercado do gozo, 2003). Tais preocupações necessariamente envolvem a avaliação e a exposição crítica das formas pelas quais a história tem sido pensada e configurada na teoria e na arte (Equívocos colecionados, exercícicios de 2004, põe esse aspecto em plano formal, e a peça, Visões siamesas, do mesmo ano, explora o tema em chave que inclui técnicas brechtianas e estratégias literárias de Machado de Assis). Radicalmente experimentais, a cena e o texto da Companhia do Latão traduzem o empenho em levar às últimas consequências e superação dos limites formais do repertório brasileiro.