Um livro que ensina, pesquisa e convida o leitor a criticar, pensar, refletir, e enxergar, com olhos despidos de possíveis modismos que normalmente atrapalham a visão e provocam inevitáveis limitações diante de manifestações artísticas, literárias e da linguagem dos símbolos em geral. Segundo o autor, em alguns momentos, para poder ver mais longe e muito melhor, só mesmo saindo em busca de uma "cegueira" providencial. Affonso Romano também faz questão de deixar bem claro que suas crônicas culturais "diferenciam-se também do que seria crítica e resenha. Poeta crônico, interessa-me entender a contemporaneidade e rever a tradição". E deixa no ar a pergunta: "Será que a vida atual não permite mais esse desempenho teatral ou estão faltando redatores e copidesques da última cena? Nas seis primeiras crônicas, que dão título ao livro, o autor seleciona lendas, mitos e textos literários sobre o 'intrigante tópico da cegueira e do (não) saber', como o Ensaio sobre a cegueira, de Saramago, Em terra de cego, conto de H. G. Wells, A carta roubada, de Poe, A nova roupa do imperador, de Andersen, entre outros, para apresentar os vários aspectos do ver e do não-ver - a cegueira como uma praga temporária, a visão arrogante que não enxerga o óbvio, o pacto social em torno do não-ver, a sabedoria que ilumina a vida interior, o desafio de ver o mundo com novos olhos. Affonso Romano de Sant´Anna também fala sobre os percalços da carreira de escritor, às voltas com a folha em branco ou com as sucessivas recusas dos editores à publicação. Ele dá exemplos como o de Marcel Proust, que precisou bancar a publicação de Em busca do tempo perdido por não encontrar uma editora disposta a publicá-lo. O autor dialoga ainda com a obra A grande recusa, de Mario Baudino.