Uma das principais características da poesia de Moisés Guimarães é a tensão entre melancolia e desbunde. Sem deixar de sentir o peso das coisas, seus eus poéticos levitam a fim de experimentar a vida ordinária e cotidiana com alguma beleza. Também podemos perceber essa a régua ética que mede ironia e enfrentamento do mundo. Como de costume, nos livros anteriores, o autor faz seus eus vestirem e despirem máscaras diante de quem lê. Os cortes dos versos e os encadeamentos resultados desses cortes engendram o ritmo de um sujeito inquieto e consciente, que detalha o desejo com tesão: A escuta está longe / rumina no pasto / padece de dor. É esse ser da urbe cantando um lugar distante, porque dentro de si, o que vai se revelando ao longo da leitura do livro. Sem nenhum miasma de eu-exilado, porque experimenta com imersão o agora, mas com maturidade para registrar o que se perdeu e está se perdendo na velocidade das horas. Leonardo Davino de Oliveira