De outras obras, que nascem do projeto de Freyre de estudar o surgimento e a decadência da sociedade patriarcal ou que, por outra via, ajudam a consolidá-lo, que Ana Luiza Andrade parte para realizar este livro, "Outros perfis de Gilberto Freyre". Ana Luiza faz um feliz contraponto entre Freyre e Fernando Ortiz, o cubano que estudou o conflito entre as culturas do açúcar e do tabaco na ilha do Caribe, para mergulhar, em seguida, nas “engenharias” freyrianas: a física, a social e a humana. E, deste mergulho, emergem ensaios próprios que, assim como a obra que o inspirou, não respeitam os limites “científicos” que separam a história da literatura e da sociologia, a antropologia da filosofia e a poesia da, veja só, ecologia. A cultura da cana-de-açúcar não é apenas a de Freyre e a de Ortiz, mas também a de Frei Antonio do Rosário, João Cabral de Melo Neto e Alejo Carpentier. Da mesma forma, nos deparamos com cruzamentos que nos levam a Jacques Derrida, Gilles Deleuze, Alfredo Bosi.Com o ferro, o contraponto brasileiro à cana-de-acúcar, Ana Luiza seguirá caminho semelhante, fazendo competente e instigante leitura do que a autora chama de “formação inacabada de subjetividades brasileiras” - bem ao espírito de Gilberto Freyre, cujas obras, menores ou maiores, pouco importa, sempre se permitiram germinar na forma de novos ensaios e novas pesquisas, em busca de novos conhecimentos.