Este livro traz uma história construída com base em muitas histórias. Histórias entrecortadas, fragmentadas, mas fragmentos densos em significados. Por meio da leitura dos processos criminais, foi possível flagrar momentos da vida de homens e mulheres que, não fosse terem transgredindo a norma penal, certamente teriam sido esquecidos para sempre. Para as autoridades policiais e judiciais, orientadas pelos Códigos criminais, a conduta violenta de livres, libertos e escravos, brancos, pardos ou pretos, artesão e jornaleiros, não passavam de "desordens" e "turbulências". Os protagonistas, contudo, não enxergavam como crime os ajustes violentos em que se envolviam. A violência era tida como conduta legítima e normal, pertencendo à ordem natural das coisas. Da tentativa de desvendar essas histórias de vida fragmentadas, emergiu um universo cultural marcado por relações pessoais, que oscilavam entre a solidariedade e violência.